Exibição do cineclube Mnemosýne marca as atividades do Campus V alusivas ao Dia da Consciência Negra

Acima de sermos negros, brancos, árabes, judeus, americanos, somos uma única espécie. Quem almeja ver dias felizes, precisa aprender a amar a sua espécie (…) Se você amar profundamente a espécie humana, estará contribuindo para provocar a maior revolução social da história, esse pensamento, do psiquiatra e escritor Augusto Cury, reflete os anseios dos organizadores da sessão especial do Cineclube Mnemosýne alusiva ao Dia da Consciência Negra, realizada na manhã desta quarta-feira (20), no auditório do Campus V da universidade Estadual da Paraíba.

O evento contou com exibição do documentário “A Negação do Brasil” (2000) de Joel Zito Araújo, que trata da história da telenovela no Brasil com uma análise do papel atribuído aos atores negros, que sempre representam personagens mais estereotipados e negativos. Baseado em suas memórias e em fortes evidências de pesquisas, o diretor aponta as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-brasileiros e faz um manifesto pela incorporação positiva do negro nas imagens televisivas do país.

Após a exibição foi realizado um debate com a participação da professora do Curso de Ciências Sociais e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba, Teresa Cristina Matos, que é doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará, membro do Núcleo e Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI/UFPB) e que trabalha com pesquisas na área de comunicação, cultura, cinema, conflito e autoimagem, racismo, relações raciais.

O coordenador do Mnemosýne, professor Vancarder Brito, destacou que essa iniciativa de discutir o preconceito racial na sessão do cineclube é uma prática consolidada no projeto desde 2010 com o intuito de mobilizar a comunidade acadêmica e suscitar uma reflexão sobre temas de relevância social.

“Essa é uma discussão profunda que nossa sociedade precisa fazer sobre o preconceito que é negado nas nossas relações cotidianas e que infelizmente existe e é forte. Precisamos suscitar momentos como esse, de discussão, não como uma compensação pela escravidão, e sim enxergando essa mudança de postura como uma condição de um país democrático daqui pra frente, pois, se não discutimos seriamente sobre isso não vamos retomar o caminho de igualdade social. No momento em que não tivermos consciência de que existe o preconceito e que nós o praticamos enquanto sociedade não poderemos superá-lo”, avalia o professor Vancarder.

A professora Tereza Cristina destacou a importância da reflexão por meio da linguagem fílmica sobre a temática da discriminação, principalmente pela escolha do documentário de um diretor que aborda essa problemática frequentemente em seus trabalhos. “Esse diretor tem produzido materiais sobre essa questão desde o final dos anos 90 e nesse documentário ele faz isso a partir de um produto popular, que está na casa dos brasileiros todos os dias, que é a telenovela. A novela constrói uma representação sobre o Brasil e dos brasileiros que é muito centrada numa imagem eurocêntrica que não traz essa representação do país multirracial. Então, a partir desse mote podemos refletir sobre a discriminação que está presente em todas as esferas de nossa vida”, afirmou.

O evento marcou o retorno das atividades do Mnemosýne no período 2013.2. O cineclube é um projeto de extensão vinculado ao Programa “Informação e Cognição: socializando conteúdos informacionais articulados ao saber, à cultura e à memória”, do curso de Arquivologia da UEPB, sob a coordenação dos docentes Maria José Cordeiro Lima e Vancarder Brito.

Criado em 2010, o nome do projeto “Mnemosýne” foi escolhido em alusão à deusa homônima, advinda da mitologia grega, que representa a personificação da memória.

ASCOM/UEPB